sexta-feira, 21 de março de 2014

O TEATRO, A MÍDIA E A REALIDADE


Incontáveis são as manifestações nas redes sociais sobre as tentativas de reprodução da realidade frustradas pelo cinema e em especial pela televisão através de suas telenovelas.

São audiências na vara de família abertas ao público, a celeridade da justiça, as investigações policiais absurdas, advogados que por meio de inescrupulosos contatos pessoais com juízes e desembargadores acabam obtendo resultado em suas ações, o mundo do cárcere, médicos e enfermeiros praticando atos impossíveis, o mundo nas “favelas”, o comportamento absurdo de grandes criminosos, enfim, um mundo de coisas que definitivamente não espelham a realidade, ou que transformam casos isolados como rotineiros.

Em realidade, não há grandes problemas com relação à isso. Claro, isso é teatro! Quando existem telenovelas sobre vampiros, óvnis, não há qualquer questionamento, mas quando a situação se aproxima da realidade são incontáveis os questionamentos. Porém, por mais próximo que seja da realidade, tudo isso é fantasia.

A mídia, como boa observadora, entende a emoção de seu público, trazendo para a tela a concretização de muitos desejos, como o jeito fácil de adquirir riqueza financeira ou a empregada que se vinga da patroa, captando cada vez mais adeptos.

O problema ocorre quando a grande população se esquece tratar-se de fantasia e resolve acreditar no teatro como sendo meio de informação, como um noticiário de TV.

De fato, deveriam os autores e diretores preocupar-se um pouco mais em não ensinarem tantas formas de praticar crimes, pois infelizmente não são difíceis de encontrar crimes praticados no mundo real, espelhados do mundo teatral. Afinal, hoje em dia senão tudo, mas muito, se copia.

A principal problemática existente hoje neste quesito é a confusão entre o que é real e o que é fantasia.

Nos noticiários e programas de “informação criminal” vemos altas doses de fantasia e nas telenovelas e programas midiáticos teatrais, altas doses de realidade.

Tudo isso se confunde num grande “caldeirão”, de onde a grande população acaba por extrair seus valores.

E, nessa mistura, se aproveita a mídia para inserir suas próprias emoções e valores, em defesa de seus interesses empresariais, em busca de poder, fazendo de seus expectadores verdadeiros súditos de uma ditadura invisível.

Esse grande atropelo de informações não faria muita diferença se os “súditos” da mídia fossem pensadores, detentores de cultura útil, capazes de expressar seus próprios sentimentos e refletir individualmente sobre suas reais necessidades e a própria felicidade.

Isto tornaria as pessoas capazes de distinguir o teatro da realidade, filtrando as informações recebidas.

Mas em um estado onde a classe média vive em condições precárias e a míngua de expectativas de crescimento, onde a educação pública se faz cada vez mais deficiente, onde tantos problemas sociais são patentes, impossível se faz a distinção sugerida, ganhando a mídia cada vez mais “súditos”, aumentando seu poder.

Desta forma, a mídia que melhor controla seus súditos acaba por governar um país.