Incontáveis são as
manifestações nas redes sociais sobre as tentativas de reprodução da realidade
frustradas pelo cinema e em especial pela televisão através de suas
telenovelas.
São audiências na vara
de família abertas ao público, a celeridade da justiça, as investigações
policiais absurdas, advogados que por meio de inescrupulosos contatos pessoais
com juízes e desembargadores acabam obtendo resultado em suas ações, o mundo do
cárcere, médicos e enfermeiros praticando atos impossíveis, o mundo nas
“favelas”, o comportamento absurdo de grandes criminosos, enfim, um mundo de
coisas que definitivamente não espelham a realidade, ou que transformam casos
isolados como rotineiros.
Em realidade, não há
grandes problemas com relação à isso. Claro, isso é teatro! Quando existem
telenovelas sobre vampiros, óvnis, não há qualquer questionamento, mas quando a
situação se aproxima da realidade são incontáveis os questionamentos. Porém, por
mais próximo que seja da realidade, tudo isso é fantasia.
A mídia, como boa
observadora, entende a emoção de seu público, trazendo para a tela a
concretização de muitos desejos, como o jeito fácil de adquirir riqueza
financeira ou a empregada que se vinga da patroa, captando cada vez mais
adeptos.
O problema ocorre
quando a grande população se esquece tratar-se de fantasia e resolve acreditar
no teatro como sendo meio de informação, como um noticiário de TV.
De fato, deveriam os
autores e diretores preocupar-se um pouco mais em não ensinarem tantas formas
de praticar crimes, pois infelizmente não são difíceis de encontrar crimes
praticados no mundo real, espelhados do mundo teatral. Afinal, hoje em dia
senão tudo, mas muito, se copia.
A principal
problemática existente hoje neste quesito é a confusão entre o que é real e o
que é fantasia.
Nos noticiários e
programas de “informação criminal” vemos altas doses de fantasia e nas
telenovelas e programas midiáticos teatrais, altas doses de realidade.
Tudo isso se confunde
num grande “caldeirão”, de onde a grande população acaba por extrair seus
valores.
E, nessa mistura, se
aproveita a mídia para inserir suas próprias emoções e valores, em defesa de
seus interesses empresariais, em busca de poder, fazendo de seus expectadores
verdadeiros súditos de uma ditadura invisível.
Esse grande atropelo de
informações não faria muita diferença se os “súditos” da mídia fossem
pensadores, detentores de cultura útil, capazes de expressar seus próprios
sentimentos e refletir individualmente sobre suas reais necessidades e a
própria felicidade.
Isto tornaria as
pessoas capazes de distinguir o teatro da realidade, filtrando as informações
recebidas.
Mas em um estado onde a
classe média vive em condições precárias e a míngua de expectativas de
crescimento, onde a educação pública se faz cada vez mais deficiente, onde
tantos problemas sociais são patentes, impossível se faz a distinção sugerida,
ganhando a mídia cada vez mais “súditos”, aumentando seu poder.
Desta forma, a mídia
que melhor controla seus súditos acaba por governar um país.